Para quem não os viu...
Fica a notícia do PÚBLICO:
"Rigorosos, apaixonados e irrepreensíveis
05.02.2008
Ao sexto dia, apesar do mau tempo, a pequena Sala do Capítulo encheu-se para um inesperado deleite: afinal, o consort era sublime no tempero, na invenção, na partilha, e a "música dos anjos" não perdia com o grão da chuva que a polvilhava.
A música, dos princípios do século XVII - uma combinação de autores anónimos com Manuel Rodrigues Coelho, Pedro de Araújo e Pedro de San Lorenzo -, segundo se crê, composta originalmente para tecla, provém dum manuscrito existente na Biblioteca Municipal de Braga (n.º 964), a partir do qual A Imagem da Melancolia (AIM - agrupamento de flautas fundado em 2002, por Pedro Sousa Silva) concebeu o projecto O Consort Português Mal Temperado (CPMT), que resulta "na edição de partituras, num ciclo de oito concertos e na realização de um registo discográfico".
O programa foi organizado numa sequência de oito "Tons" (que Pedro S. Silva resume como "sabores") - primeiro, segundo, quinto, sétimo, terceiro, sexto, quarto e oitavo -, cada um integrando um número variável de peças.
Logo ao primeiro ataque, o agrupamento surpreende pela positiva: o som é, de facto, lindíssimo, mas, mais do que o som, a inimaginável sincronia alerta para um elevadíssimo nível, só possível com um rigoroso trabalho de conjunto.
"Rigor" é, aliás, juntamente com "paixão", uma das palavras que se podem usar em referência ao trabalho de Pedro Sousa Silva (mais evidente com a AIM do que com outros dos seus projectos), um percurso que assenta em discretos mas sólidos passos e que se imagina que conduza o campo da música antiga em Portugal mais além.
Ao conjunto de oito flautistas (complexamente variado em diferentes combinações de 15 flautas, todas elas recentemente construídas por Adrian Brown), em cinco das peças junta-se uma voz de soprano (que acaba por resultar harmoniosamente), em algumas das quais acrescentando apenas a solmização. Essa combinação de flautas, metáfora da registação do órgão, será mais um dos ingredientes meticulosamente trabalhado, que pouco salta à vista (mas que muito "aconchega"), face ao virtuosismo de várias passagens, à não vacilante ornamentação, à articulação variada, à invenção, à alma que transborda tanto dos momentos meditativos como dos mais dançantes.
A completar o momento, que Pedro S. Silva contextualiza ao fim do Quinto Tom (aumentando o interesse pela música que já tinha cativado o público), umas notas ao programa fora do comum - musicológicas, literárias, acessíveis e interessantes - apontam para o trabalho de detalhe a que cada projecto conduz: tudo é pensado como um todo, tudo é vivido por inteiro.
Hoje é o último concerto desta série - a não perder: Porto, Igreja de São João da Foz - 21h30. À saída, pode ainda encontrar-se o registo de um projecto anterior, para consumir em casa. A gravação do CPMT vem já a seguir. E promete!
Para os músicos, a AIM oferece as partituras (não como eles as tocam, mas a matéria-prima com que a criatividade de cada grupo poderá - ou não - alcançar a "música dos anjos"), que estão disponíveis em www.aimagemdamelancolia.net
Diana Ferreira"
"Rigorosos, apaixonados e irrepreensíveis
05.02.2008
Ao sexto dia, apesar do mau tempo, a pequena Sala do Capítulo encheu-se para um inesperado deleite: afinal, o consort era sublime no tempero, na invenção, na partilha, e a "música dos anjos" não perdia com o grão da chuva que a polvilhava.
A música, dos princípios do século XVII - uma combinação de autores anónimos com Manuel Rodrigues Coelho, Pedro de Araújo e Pedro de San Lorenzo -, segundo se crê, composta originalmente para tecla, provém dum manuscrito existente na Biblioteca Municipal de Braga (n.º 964), a partir do qual A Imagem da Melancolia (AIM - agrupamento de flautas fundado em 2002, por Pedro Sousa Silva) concebeu o projecto O Consort Português Mal Temperado (CPMT), que resulta "na edição de partituras, num ciclo de oito concertos e na realização de um registo discográfico".
O programa foi organizado numa sequência de oito "Tons" (que Pedro S. Silva resume como "sabores") - primeiro, segundo, quinto, sétimo, terceiro, sexto, quarto e oitavo -, cada um integrando um número variável de peças.
Logo ao primeiro ataque, o agrupamento surpreende pela positiva: o som é, de facto, lindíssimo, mas, mais do que o som, a inimaginável sincronia alerta para um elevadíssimo nível, só possível com um rigoroso trabalho de conjunto.
"Rigor" é, aliás, juntamente com "paixão", uma das palavras que se podem usar em referência ao trabalho de Pedro Sousa Silva (mais evidente com a AIM do que com outros dos seus projectos), um percurso que assenta em discretos mas sólidos passos e que se imagina que conduza o campo da música antiga em Portugal mais além.
Ao conjunto de oito flautistas (complexamente variado em diferentes combinações de 15 flautas, todas elas recentemente construídas por Adrian Brown), em cinco das peças junta-se uma voz de soprano (que acaba por resultar harmoniosamente), em algumas das quais acrescentando apenas a solmização. Essa combinação de flautas, metáfora da registação do órgão, será mais um dos ingredientes meticulosamente trabalhado, que pouco salta à vista (mas que muito "aconchega"), face ao virtuosismo de várias passagens, à não vacilante ornamentação, à articulação variada, à invenção, à alma que transborda tanto dos momentos meditativos como dos mais dançantes.
A completar o momento, que Pedro S. Silva contextualiza ao fim do Quinto Tom (aumentando o interesse pela música que já tinha cativado o público), umas notas ao programa fora do comum - musicológicas, literárias, acessíveis e interessantes - apontam para o trabalho de detalhe a que cada projecto conduz: tudo é pensado como um todo, tudo é vivido por inteiro.
Hoje é o último concerto desta série - a não perder: Porto, Igreja de São João da Foz - 21h30. À saída, pode ainda encontrar-se o registo de um projecto anterior, para consumir em casa. A gravação do CPMT vem já a seguir. E promete!
Para os músicos, a AIM oferece as partituras (não como eles as tocam, mas a matéria-prima com que a criatividade de cada grupo poderá - ou não - alcançar a "música dos anjos"), que estão disponíveis em www.aimagemdamelancolia.net
Diana Ferreira"
3 Comments:
Eu, com grande pena, minha perdi esse grandioso evento musical na nossa cidade!
Estava "lá fora", numa de migra viajante a gozar uns míseros diazinhos de férias, mas penalizo-me por essa minha enorme falha!
Mas parece-me que a crítica foi bastante generosa!
MUITOS PARABÉNS Minha Flautista preferida!
Generosa?! Não, foi bastante honesta ;)
Foi mas é tudo muito bonito! E agora queremos o disco para ouvir nas tardes de sábado, de domingo, de segunda, de terça, e até de quarta. O resto da semana fica livre para podermos ir assistir a mais espectáculos! Onde são? E quando são?
Plac plac plac plac plac plac plac plac. Bravo!
(Isto foi a salva de palmas...)
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