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2006-05-25

Crónica de uma Bandeira Portuguesa - Parte I



Não quis deixar de partilhar convosco este texto hilariante... Como é grande, vai ter vários capítulos.

E de um Portugal muito, mas mesmo muito profundo!
20 de Maio de 2006, todo o santo dia!



Capítulo I - A BANHADA

Podia ter-me dado para pior... Mas o certo é que me levantei cedo no sábado, fresca e bem disposta, para ir para a bandeira mais bela do mundo.

Às 10h da manhã já estava em Lisboa para me encontrar com a minha amiga Sandra. Fomos para Entrecampos apanhar o autocarro para o Estádio, mas autocarros nem vê-los! Primeira asneira.


Perguntámos a dois GNRs (um segurava nos cavalos e o outro enfiava uma cervejola pela goela abaixo) e mandaram-nos para o Campo Grande. Metemo-nos no Metro. Segunda asneira. Lá em baixo estava uma multidão de estudantes a berrar RFI e aos hurras, pulos e encontrões, e quase que andámos pelo ar... Por pouco não fomos arrastadas para a benção das fitas. Fizémo-nos de pequeninas, encolhemo-nos e lá conseguimos chegar ao Campo Grande, já fartas do banho de multidão, mas ainda sem saber o que nos esperava depois...

Capítulo II - A PEIXEIRADA

Ai que bela bicha nos esperava! (Sim, bicha, que eu falo português). Tinha aí uns 200 metros de comprimento e dois de largura. Os autocarros lá iam arrancando com o mulherio e uns tantos homens "a tomar conta", mas perto da nossa vez deixou de haver transporte.
Esperámos pacientemente ao sol e lá fomos metendo conversa umas com as outras, para passar o tempo. Conhecemos duas raparigas que tinham vindo de Peniche, aí com um metro e setenta cada uma (isto é importante, como verão depois).
Passado um bocado, começaram a chegar os vendedores ambulantes, que nos massacraram durante uma hora com:

- "olhó apito",
- "olha a capa pró telemóvel",
- "vá lá filhas, só 1€, tá a acabar!".

Ninguém comprava nada. Então passaram a andar para cima e para baixo, só para fazer olho gordo ao mulherio e dizer umas parvalheiras, até que uma velha os enxotou com uns berros e a ameaça de uma mala nas trombas.
Acalmaram-se os ânimos. Chega finalmente um autocarro mas... Oh!! Pára no fim da bicha (200 metros mais abaixo) e começa a meter pessoal à balda.
Aquecem os ânimos outra vez. Começámos a protestar, mas lá atrás não estavam nem ralados. O autocarro arrancou e nós andámos para o meio da estrada, fechando a saída. O autocarro pára e começa a confusão... O motorista abre a janelinha e diz:

- "Eu apanho quem quero e onde quero e caluda, ó mulheres! (Era para as que estavam lá dentro ou cá fora?). Toca a andar!"
Terceira asneira (esta foi só dele). O autocarro não sai, as que lá iam dentro começam aos insultos e aos gestos, muito valentonas com as portas e janelas fechadas, claro! Cá fora, com civismo e firmeza, ninguém arredava pé. Fomos mimoseadas e epitetadas com tudo de mais vernáculo que a língua portuguesa tem. Com mais ou menos calma, chamámos a polícia.
Os autocarros das carreiras dos subúrbios também não conseguem sair e começam a buzinar com raiva. Um motorista mete a cabeça de fora e grita:

- "Ó tiazinhas, vão para casa coser meias!! Eu estou a trabalhar e não consigo passar!".

O mulherio responde:
- "Se tem pressa, faça marcha atrás e contorne, que abrimos passagem!!".

- "Bando de malucas, precisam é de uma carga de porrada".

- "Óh homem, não se meta, se tem pressa vá andando!!".

- "Bando de galinhas!!",

- "Cocorocó"!

...E por aí fora... Juntam-se os mirones habituais, cada vez mais gente e... Chegam 4 carros de polícia, com grande aparato. As da bicha aplaudem, as do autocarro borram-se.
O primeiro polícia a sair ficou logo com os tímpanos furados. Elege-se uma comissão de cada um dos lados, tudo na maior confusão. Sai do autocarro uma lambisgóia a dizer que era amiga dos jogadores e tinha que sair já. Assobios e gargalhadas. A dita-cuja volta para dentro derrotada e sai uma padeira-de-aljubarrota, com barrigona e bigode a condizer, a mostrar um crachá.

A comissão das apeadas diz:
- "Olha, olha, andam a distribuir disso ali na esquina... As filas são para se respeitar!"

A padeira-de-aljubarrota fica sem argumento e retira-se, ferida na sua esperteza saloia. Fecha-se a porta do autocarro. Nova ronda de gestos feios das motorizadas. As apeadas fazem queixa, os polícias vão lá dentro ralhar. Mandam o motorista manter a porta fechada, o motor desligado e as janelas fechadas.
Passa mais uma hora e meia. Lá dentro abanam-se furiosamente.
Abre-se a porta do autocarro. Já desgrenhadas, despenteadas e a suar por todos os cantos, decidem que podem levar mais 10 apeadas. Ninguém aceita. Apupos. De novo gestos feios e narizes esborrachados no vidro. Lá vai a polícia outra vez mandá-las estar quietas...
Contudo, cá fora ninguém deu pelo tempo passar. Aquela hora e meia passou veloz. Foi divertidíssimo, o máximo. Só faltaram as farturas!
Chega finalmente um autocarro, mas ninguém entra sem a polícia se comprometer que não deixa sair o outro. Entramos por fim, sob aplausos da bicha (cada vez maior!) e "tomas" e "big fingers" do autocarro. A polícia vai lá outra vez...

2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

E viva Portugal! Não fossem as padeiras de aljuba rota e ainda estávamos pior. Eu acho que a minha aljuba também está rota, mas não faz mal, que isto de não conseguir poupar tem o lado positivo: protege-nos de investir em fraudes.

Beijinhos
quebra gelo

11:01 da manhã  
Blogger Ursa Maior said...

E mais... os próximos episódios.

12:32 da tarde  

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