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2008-05-23

Cabeça de Porco



(Cabeça de Porco: cortiço. Na linguagem jovem das favelas cariocas é sinónimo de situação sem saída, confusão)


Como ninguém escreve do país eu, antecipando a abertura, já amanhã, da Feira do Livro de Lisboa, escrevo do estrangeiro e sobre um outro estrangeiro: o do mundo das favelas brasileiras, da violência juvenil.

Um antropólogo (Luiz Eduardo Soares – co-autor do livro que deu origem ao polémico filme Tropa de Elite), um rapper (MV Bill) e um empresário musical (Celso Athayde), juntaram-se para contar histórias de meninos envolvidos no tráfico de drogas e reflectir sobre a sua experiência durante a pesquisa. São histórias terríveis contadas sem moralismos nem condescendência. Nos relatos não há bons nem maus, há pessoas, crianças, famílias e uma reflexão que, direccionando para eles mesmos a responsabilidade dos actos, lhes devolve a humanidade que há muito perderam nas peças jornalísticas. O livro divide-se entre os relatos da presença de Bill e Celso nas favelas quando, para a realização de um documentário, filmavam entrevistas com as crianças do tráfico; as entrevistas realizadas especificamente para este livro e as reflexões sobre o que vai sendo relatado e sobre a vida dos próprios autores. São muitas as realidades aqui retratadas. São vários níveis de envolvimento. São constantes as contradições porque os sentimentos vividos são também eles contraditórios. É impossível não gostar destas pessoas quando se as conhece, é impossível não as detestar também. Isso porque existe sempre uma empatia entre o leitor e os envolvidos no livro – actores e autores.

Bill escreve, desconcertado, depois de uma tarde passada em casa de uma senhora, mãe de uma filha pré-adolescente e traficante de merla (uma droga, subproduto da cocaína, que junta as folhas da coca com alguns produtos químicos como ácido sulfúrico, querosene, cal virgem e ainda um composto chamado ácido de bateria!):

Triste, muito triste tudo aquilo. Eu olhava para a dona da casa, por quem eu sentia uma grande admiração pela força que tinha, pelo talento para falar e pela fé na vida, e ela estava relaxada, fumando um cigarro, com um leve sorriso. Parecia se deliciar com aquele desespero. Aquilo me fazia sentir muita raiva dela. Sua casa era um inferno. Na verdade, ali era o paraíso do diabo. Como eu me poderia sentir em paz naquele lugar? Mas era assim que eu me sentia, feliz por estar ali na sua companhia, ouvindo as histórias daquela mulher que vendia merla para sustentar a sua filha, que vendia merla para destruir a vida das filhas dos outros; da mulher que vendia merla para salvar seu lar, mas que destruía, com a merla, muitos outros. (pp. 21-22)

A grande diferença entre este livro e aquilo que achamos conhecer da realidade das favelas brasileiras, da violência juvenil e do tráfico de drogas, é que aqui somos convidados a participar da reflexão (e fazemo-lo até num português de favela brasileira muito criativo e divertido!). O livro confronta-nos com várias perspectivas e deixa-nos permanentemente divididos - perdemos as certezas e refazemos o trajecto das nossas convicções. Aqui, não somos apenas espectadores, somos desafiados a ser parte da solução. Por isso não é um livro desencantado.

MV Bill nasceu na CDD, como lhe chamam carinhosamente os habitantes da Cidade de Deus, e é lá que ainda vive, apesar do seu enorme sucesso enquanto músico. Celso Athayde, cresceu na Favela do Sapo, no Rio de Janeiro. Luiz Soares vive na zona Sul. Os três partilham o mesmo descontentamento e o sonho de contribuir para uma reflexão que parta da situação como ela é vivida e aponte uma saída para a enorme Cabeça de Porco que se vive nas favelas brasileiras.

2 Comments:

Blogger Cromo da Bola de Neve said...

Realmente as favelas são uma realidade assustadora, infelizmente em Portugal também há muitas zonas que decerto entrariam na mesma descrição de miséria e desgraça. Felizmente há histórias de sucesso de pessoas nascidas na favela que contra tudo e contra todos conseguem sobreviver. Enquanto há vida à esperança...

7:14 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

A expressão "Cabeça de porco" não é somente uma gíria das favelas, mas sim é um nome carregado de historicidade. Cabeça de Porco foi o último cortiço carioca, um ícone de resistência popular. Os cortiços eram localizados na parte central do RJ, na época (final do séc.XIX) a capital do país, um projeto de reurbanização e higienização da cidade provocaram a destruição dos cortiços. Sem ter para onde ir a população pobre iniciou a construção de moradias precárias nas encostas de morro, surgindo assim as favelas.

As favelas não são só "uma realidade assustadora" é preciso compreender como que se formaram e como é tratada sua população, que sofrendo preconceitos e violências. As favelas são o principal monumento construído pela desigualdade social e econômica do Brasil.

Pietro A. Cândido

4:22 da manhã  

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