«Os paneleiros hádem morrer todos»
Depois de muito me indignar a ler artigos de opinião de quem, como o Miguel Sousa Tavares, devia pelo menos saber o que está a dizer antes de desatar a lançar veneno (ver público de sexta-feira, 18 de Novembro de 2005), resolvi abrir aqui a discussão transcrevendo o comentário de Ana Sá Lopes ao prémio Arco-Íris atribuído pela ILGA e recebido por, entre outros, a jornalista Fernanda Câncio.
«Os paneleiros hádem morrer todos». A frase é de um dos elementos de uma milícia organizada que em Viseu decidiu perseguir, ameaçar e atacar homens gay – e a frase é também o título da peça com que Fernanda Câncio, Grande Repórter do Diário de Notícias, trouxe a homofobia para as primeiras páginas dos jornais portugueses. Investigar a homofobia, torná-la visível, denunciá-la: eis um trabalho fundamental de jornalismo e de cidadania. Fernanda Câncio fê-lo em Viseu, ao procurar, descobrir e interrogar os criminosos - pondo também em evidência, afinal, a ineficácia e relutância das autoridades policiais e judiciais. Fê-lo ainda no DN, uma vez mais, a propósito de Viseu e do Dia Mundial de Luta Contra a Homofobia, num caderno abrangente dedicado à homofobia em Portugal - que incluía uma inevitável entrevista a João César das Neves e em que Fernanda Câncio desmonta bem “a discriminação que se traveste de tolerância”. Porque a homofobia precisa de ignorância e a ignorância também precisa da homofobia, a campanha (não lhe chamemos notícia...) do Expresso contra a Educação (ai) Sexual nas escolas era transparente nos seus objectivos, mas foi Fernanda Câncio quem assumiu a responsabilidade de, com rigor, expor esse logro nas páginas do DN.(...) É que a jornalista Fernanda Câncio explicou também a declaração de inconstitucionalidade do artigo 175º do Código Penal, que institui uma idade do consentimento para homossexuais diferente da idade do consentimento para heterossexuais. No entanto, salvo algumas excepções notáveis (São José Almeida, José Vítor Malheiros e Daniel Oliveira), esta declaração de inconstitucionalidade veio gerar repetidas confusões nas mentes mais insuspeitas, para além, claro, das suspeitas. Mas foi a f. que reagiu como nós gostávamos de poder reagir depois de anos de comunicados de imprensa a explicar tudo devagarinho:
não há cu
juro: se volto a ouvir ou a ler a teoria das gravidades relativas das violações "homossexuais" e "heterossexuais" a propósito do artigo 175 e da decisão do tribunal constitucional sobre a sua inconstitucionalidade sou bem capaz de ir por aí fora a desferir golpes de código penal, de preferência bem anotado. a última foi naquele programa da sic notícias que, julgo, dá pelo nome de eixo do mal, onde josé júdice e pedro mexia soltaram, com ar de grande gravidade e reflexão, considerações sobre "ser pior uma violação homossexual que uma violação heterossexual" e ser isso que "está também em causa no artigo 175". ARRE. meus caríssimos senhores, que nem tenho por débeis mentais: informem-se antes de serem filmados a opinar sobre tudo e mais alguma coisa. violação, caso não saibam, é um crime que dá precisamente por esse nome. abuso, caso não saibam, também é um crime que dá, imaginem, pelo nome de abuso. e o artigo 175, imaginem, não dá por nenhum desses nomes por uma simples razão: é que não tem nada a ver com violação e com abuso. tem a ver, como aliás o vosso colega de eixo daniel oliveira vos explicou, com a idade do consentimento. e com o facto de o nosso ordenamento jurídico determinar que um/a jovem entre 14 e 16 anos pode ter maturidade para decidir ter uma relação com um adulto doutro sexo, mas não com um adulto do mesmo sexo. ok? ah, e só mais uma coisa. o josé júdice não sabe como é que uma menor pode ser abusada por uma mulher adulta. foi ele que disse.
(...) E está dito. Em pleno Fórum do Casamento entre Pessoas de Mesmo Sexo, a caminho da vanguarda, premiamos a Fernanda Câncio... e a f. A glória não é fácil, mas é merecida.
Ana Sá Lopes (aka asl), in gloriafacil.blogspot.com
3 Comments:
No próximo capítulo dessa saga, eu que até não sou nada voyeurista, gostaria de ver a imagem do Capitão América aos beijos com o Capitão Gancho. Por nada. Só para acrescentar à discussão o tema do choque geracional, que não é chamado ao caso, mas já agora...
não há cu que aguente...
Ái hádem hádem! Lá tão vocês a dzer mal do Sousa Tavares só porque o gaijo não vai à bola com os boiolas nem é rabilhon! Atão não se vê que o gajo é à moda antiga? Cê não leu o Equador? Repita cómigo: é cu há dor! Ai aqueles rebolanços na praia, aquelas cenas de sexo titilante ao som das ondas, ai os corpos tremeluzentes roçando na areia! Ái, ái que até se me desvaneço de tanto amor! Ái gira!
Enviar um comentário
<< Home